:: Literatura ::
Apesar de um fenômeno recente, a badalada rede social Facebook já tem inúmeros livros que traçam seu perfil tanto como empresa de sucesso, quanto como história dramática. Dentre estes títulos um ganha destaque por ter inspirado um filme que abraça o tema, da criação do site as enroladas histórias por trás deste fenômeno midiático. Escrito por Ben Mezrich e intitulado por aqui como Bilionários por Acaso: A Criação do Facebook (Editora Intrínseca), o livro resume a razão da criação do Facebook simplesmente como uma busca de dois nerds por aceitação perante o público feminino, ou, como frisado pelo livro, uma busca por transas com garotas bonitas. Abordando momentos pontuais da parceria e amizade entre o criador da rede social, Mark Zuckerberg e o c0-criador e financiador do projeto, o brasileiro Eduardo Saverin, Bilionários por Acaso: A Criação do Facebook é um raro livro que mistura romance à relatos jornalísticos (o conteúdo deste foi obtido através de várias entrevistas com pessoas envolvidas no processo, inclusive Saverin), transformando os depoimentos colhidos em prosa literária com uma roupagem bastante dinâmica, que desperta interesse imediato no leitor, mesmo que este possua uma narrativa fragmentada, que intercala longos intervalos de tempo entre cada capítulo. Enfim, apesar da condensação de eventos sofrer perda de informações devido a esses buracos temporais em sua narrativa, o contexto nunca deixa de ser inteligível e o leitor pode acompanhar a trejetória da dupla e demais personas de grande relevância da trama, sem grandes perdas. Um livro curto, dinâmico e bem-escrito, sem grandes pretenções, mas competente em sua proposta, tanto que despertou interesse em Hollywood e teve seus direitos negociados para uma adaptação cinematográfica, que viria a ser roteirizada por Aaron Sorkin (série The West Wing) e dirigida por David Fincher (Clube da Luta, O Curioso Caso de Benjamin Button) e lançada no ano de 2010.
:: Cinema ::
Indicada a diversos prêmios, dentre eles o Oscar, no qual concorreu nas principais categorias, dentre elas melhor filme e melhor diretor, A Rede Social (The Social Network) é um dos filmes em que nota-se realmente que sua fonte base foi utilizada, visto que, apesar da estruturação diferenciada – os eventos descritos no livro são pontuados através das cenas das ações judiciais entre Mark Zuckerberg e Eduardo Saverin e Zuckerberg e os irmãos Winkervoss – tem quase todos os momentos apontados por Ben Mezrich apresentados ou citados. Alguns pontos sofrem inversão ou são apenas encaixados em momentos diferentes, com o propósito de dinamizar ainda mais a narrativa, mas sem deixar de transparecer a essência apresentada na obra literária, que é a dicotomia entre negócios e amizades, na disputa entre poder e dinheiro e honra e companheirismo. Muito mais do que reflexão das fragilidades do homem moderno e da hipocrisia social, A Rede Social é um retrato perfeito de parte da juventude 2.0, com todo o seu ímpeto e arrogânica, seu desapego as tradições analógicas, seu preciosismo e pretenciosidade quanto à inteligência, mesmo quando a solução final apresenta-se tão vazia e insolúvel, enfim, sua ambição cega sob um chão sem vigas de sustentação, onde poucos alcançam o sucesso, seja comercial (vide Zuckerberg), seja moral (Saverin) ou ambos. A Rede Social é um retrato compacto e dinâmico de nossa atualidade, que conta com um primoroso trabalho do elenco comandado pelo sempre seguro David Fincher, com destaque óbvio para as performances de Jesse Eisenberg (Zumbilândia) e Andrew Garfield (O Imaginário Mundo de Doutor Parnassus), respectivamente vivendo Zuckerberg e Saverin, além da notável presença do antes cantor e dançarino Justin Timberlake, como o criador do Napster e um dos semeadores da discórdia, de acordo com o Saverin das obras cinematográfica e literária, Sean Parker.
Mark Zuckerberg e Jesse Eisengerb.
:: Resultado ::
Tanto o livro Bilionários por Acaso quanto o filme A Rede Social são bons trabalhos em suas respectivas mídias, sendo principalmente dinâmicos e envolventes a seu modo, complementando-se assim de maneira bastante orgânica e interessante. Entretanto, apesar de nenhuma destas serem obras incríveis e inovadoras – apesar de muitos apontarem o livro como “enfadonho” e o filme como “revolucionário” -, tanto Bilionários quanto Rede Social são entretenimento pop de grande qualidade, sem grandes pretenções a mudanças paradigmáticas ao algo do gênero, tendo como grandes objetivos informar e, principalmente, entreter. Sendo assim, apesar do equilíbrio das obras nestes quesitos, devo apontar A Rede Social como objeto mais interessante e envolvente, talvez por transportar aquele universo que nas páginas do livro perdiam um pouco do referencial por não traduzir-se em imagens como o filme, visto que todas as personagens demonstradas “existem” no mundo real, forçando assim ao leitor tentar ao máximo imaginar aquelas figuras apresentadas da mesma maneira que estas são de verdade, aspecto que o filme apresenta com maior eficácia, sem deixar de destacar, é claro, que com mais facilidade, pela própria dinâmica da matriz do cinema, a imagem.
Em suma, apesar do filme ser levemente superior, Bilionários por Acaso é um livro interessante e que deve ser lido, principalmente por aqueles que como eu gostaram de sua livre adaptação cinematográfica, por que através dele assimilarão alguns aspetcos que, pela dinâmica própria do cinema, foram limados ou condensados no filme, reiterando assim o caráter complementar de ambas as obras.
:: Links ::
– Biografia de Ben Mezrich: Wikipédia
– Biografia de Mark Zuckerberg: Wikipédia
– Biografia de Eduardo Saverin: Wikipédia
– Ficha do IMDb: Ben Mezrich (autor do livro Bilionários por Acaso: A Criação do Facebook)
– Ficha do IMDb: The Social Network
– Ficha do IMDb: David Fincher (diretor do filme A Rede Social)
– Ficha do IMDb: Aaron Sorkin (autor do roteiro adpatado do filme A Rede Social)
– Ficha do IMDb: Jesse Eisenberg (intérprete de Mark Zuckerberg no filme A Rede Social)
– Ficha do IMDb: Andrew Garfield (intérprete de Eduardo Saverin no filme A Rede Social)